30 de set. de 2013

Mais de 130 animais são resgatados pela Gestão Ambiental na BR-448

Tartarugas, gambás, lagartos, cobras, ratões-do-banhado e aves integram a lista de animais resgatados pelo DNIT, com a Gestão Ambiental da Rodovia do Parque, em construção na região metropolitana de Porto Alegre.

Tem sido um grande desafio e aprendizado para o DNIT, com a Gestão Ambiental da BR-448 (STE S.A.) a execução do Programa de Resgate da Fauna Silvestre do empreendimento. Construída em região do Bioma Pampa, próximo ao Parque do Delta do Jacuí, importante Área de Preservação Permanente, registros de encontros casuais e resgates de fauna silvestre na região do empreendimento são frequentes.


Amparada pelo Programa, a equipe habilitada para intervir em ações de resgate e afugentamento é coordenada pela Bióloga Suzielle Paiva Modkowski, que explica sobre o objetivo e as ações em que há a necessidade de intervenção na fauna. “O Programa tem como principal objetivo a proteção da fauna local que poderá ser impactada pelas atividades de construção da rodovia e prevê basicamente três situações onde existe a possibilidade de intervenção: o encontro de animais feridos, os quais são encaminhados ao CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres), no caso da BR-448, está localizado junto ao Zoológico de Sapucaia do Sul; a translocação de animais de um ponto a outro e o afugentamento, quando possível.

Conforme levantamento de registros da equipe, desde o início das obras foram resgatadas um total de 132 espécimes. Destes: 111 resgatados e soltos; 3 afugentados, mão-pelada, coruja-de-igreja e ratão-do-banhado; 7 feridos garça-branca-grande, ratão-do-banhado, jaçanã, corredeira-lisa, gambá-de-orelha-branca, quero-quero e carcará e enviados ao CETAS; além dos 11 ninhos de repteis e aves que foram isolados ou realocados.

Consciência ambiental

Os encontros e atendimentos prestados pela equipe geram também novas histórias que muitas vezes emocionam e revelam que, na BR-448, a consciência ambiental está presente em todos os setores desde a gestão até a construção, pois os chamados de atendimento partem na maioria das vezes dos trabalhadores do empreendimento, que acabam por formar uma rede de colaboração. Exemplo disso é o relato do vigilante de obra do Lote 1 (Consórcio Sultepa – Toniolo, Busnelo) Esleim da Silva Greff, 20 anos, de Novo Hamburgo.

O turno de trabalho (19h às 5h) da fria madrugada do dia 25/07, foi para o jovem Esleim, um tanto inusitado. “Estava fazendo a vigilância e caminhando próximo do mato quando percebi um gavião acocado. Cheguei mais perto e ele não tentou fugir. Peguei então o celular e filmei o animal, pois nunca havia visto um. Senti uma alegria em ver de tão perto. Ele tentou voar e não conseguiu, então chamei o ronda que me ajudou no resgate. Pegamos um pedaço de cerca daquelas laranjas (cerquite) cobrimos ele e levamos para dentro da guarita. Foi quando nos informaram que a equipe de Gestão Ambiental poderia fazer o resgate. Naquela noite tive que me abrigar dentro de uma máquina para deixar o carcará na guarita”, lembra o jovem.

Com fratura, a ave foi levada ao CETAS, em Sapucaia do Sul. “O animal chegou sem condições de voar e com a patinha no ar, sem conseguir se apoiar. Após a avaliação, constatamos uma fratura exposta do dedo médio e foi medicado”, conta a médica veterinária, Maria do Carmo Both. Em estágio de readaptação a ave passa bem. “Hoje a ave está em um viveiro grande e assim que cicatrizar o ferimento será solta”, completa.

Outro relato de socorro também envolveu uma ave, desta vez um quero-quero encontrado por funcionários do Lote 02 (Consórcio Construcap, Ferreira Guedes), no dia 11 de julho. Era um dia de protestos em Canoas e sem poder trafegar na BR-116, a equipe de Gestão encaminhou o animalzinho ao Hospital Veterinário do Zoológico de Canoas. A avaliação clínica indicou uma fratura. “Foi uma fratura leve na asa direita, o animal foi imobilizado com tala para calcificar o osso, que no dia 29/07 foi retirada. Ele está bem, o que ofertamos de comida ele aceita. Hoje está na fase de readaptação”, informou a Bióloga do hospital, Liliana Castoldi.

O manejo da fauna silvestre envolve diversos benefícios e permite a conservação da biodiversidade de espécies. “A construção de empreendimentos lineares, como a BR-448, altera os ambientes e, consequentemente, gera impactos na comunidade faunística local. Mas a partir da execução do Programa de Resgate é possível minimizar alguns desses impactos. Além disso, poderá ampliar o registro de espécies que habitam as imediações do rodovia e que poderiam não ser encontradas de outra forma, e assim fornecerá maiores subsídios para evitar impactos durante a fase de operação”, esclarece Suzielle.

A eficácia do trabalho, segundo a bióloga, deve-se a interação entre a Gestão e os trabalhadores das obras, “a grande parte dos resgates que ocorreram até o momento, foram a partir da comunicação e sensibilização dos trabalhadores que estão diariamente envolvidos nas atividades da rodovia, até mesmo em horários que não há qualquer movimentação, como o caso do carcará à noite. Assim como este, os demais animais feridos não sofreram incidentes em razão da obra, mas foram encontrados pelos funcionários na faixa de domínio, e neste caso, é nossa responsabilidade fazer o resgate e os encaminhamentos. Então, esse apoio dos colaboradores dos lotes é de extrema importância”. Para a bióloga do Zoo de Canoas, mesmo sendo previsto pela legislação, a forma de condução do Programa é que faz a diferença. “É um trabalho obrigatório pela legislação, mas quando acompanhado de uma educação ambiental com as comunidades e os colaboradores, como na BR-448, é ótimo, sem dúvida”, observa Liliana. E mesmo com o registro de algumas perdas e a frustração da equipe, Liliana acrescenta, “é muito positiva a ação de conter o Programa na obra e a translocação dos animais é ainda muito mais, pois nestes casos geralmente o animal possui limitadas possibilidades de locomoção ou apresenta comportamento de auto defesa, permanecendo no local até que se dissipe a ameaça a sua frente, mas pode também servir de presa ou morrer”.
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